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Quase meio século após o desaparecimento do pianista brasileiro Francisco Tenório Júnior, sua família recebeu com surpresa e dor a confirmação oficial de sua morte durante a ditadura militar argentina. A revelação foi feita pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), que identificou impressões digitais do músico em arquivos da repressão, encerrando um dos mais longos e emblemáticos casos de desaparecimento forçado envolvendo um brasileiro fora do país.

Tenório Júnior desapareceu em 18 de março de 1976, em Buenos Aires, enquanto acompanhava os músicos Vinícius de Moraes e Toquinho em uma turnê pela Argentina. De acordo com investigações, o pianista foi confundido com um militante de esquerda e sequestrado por agentes do regime militar argentino, que dias depois iniciaria oficialmente o golpe de Estado no país.

Apesar da confirmação de identidade, o corpo do músico nunca foi localizado, o que mantém viva a dor e a indignação da família. Os filhos de Tenório afirmaram que, embora a notícia traga alguma resposta após décadas de silêncio e incerteza, a ausência física e a falta de responsabilização exigem uma nova investigação e medidas concretas de justiça.

“A dor continua, mas a verdade e a justiça podem trazer algum consolo”, afirmaram em nota.

A identificação reacende o debate sobre os crimes transnacionais das ditaduras latino-americanas nos anos 1970, marcadas por operações conjuntas como a Operação Condor, responsável por perseguir e eliminar opositores políticos além das fronteiras nacionais. O caso Tenório Júnior é considerado um símbolo dessa brutalidade, especialmente por envolver um artista civil, sem qualquer vínculo político conhecido.

A morte do pianista já havia sido retratada em documentários e livros, incluindo o filme de animação “They Shot the Piano Player”, coproduzido por Espanha, França e Brasil, que ajudou a pressionar por novas investigações nos últimos anos.

O governo argentino ainda não se pronunciou oficialmente sobre a confirmação, enquanto entidades de direitos humanos no Brasil e na Argentina reiteram o pedido por memória, verdade e justiça. A família, por sua vez, aguarda um desfecho que vá além do reconhecimento tardio: a responsabilização dos envolvidos e o direito à despedida.

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