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Um dia após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, o governo do Brasil adotou uma postura de cautela e reafirmação da soberania nacional, sem anunciar de imediato uma retaliação comercial. A medida americana, que deve entrar em vigor em 1º de agosto, foi considerada pelo presidente Lula como uma agressão política, unilateral e sem base econômica, em represália à condução do processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Lula afirmou que aguardará a efetivação da tarifa antes de anunciar uma reação. Enquanto isso, o Planalto estuda formas de reduzir os impactos à economia, com possíveis medidas que incluem recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), quebra de patentes de medicamentos e a criação de um comitê com empresários para discutir alternativas. O presidente disse, contudo, que se não houver recuo dos EUA, o Brasil responderá com tarifas equivalentes aos produtos americanos.

Bolsonaro e aliados sob pressão

Internamente, o governo responsabiliza diretamente a família Bolsonaro pela crise diplomática, em especial o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acusado por Lula de ter atuado nos bastidores para incentivar a reação de Trump. “Foi o filho dele que foi lá fazer a cabeça do Trump”, afirmou Lula em entrevista à TV Record.

A tensão se agravou com as declarações de Steve Bannon, estrategista da ultradireita americana e aliado de Trump. Em entrevista ao UOL, Bannon afirmou que o fim das tarifas está condicionado ao arquivamento dos processos contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal: “Derrubem o caso, derrubamos as tarifas”.

Após manter-se em silêncio, Bolsonaro divulgou nota apoiando Trump e denunciando o que chama de “caça às bruxas” contra ele e seus apoiadores, tentando se apresentar como vítima de perseguição política.

Congresso e redes sociais reagem

A crise uniu, por ora, governo e Congresso. Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), divulgaram nota conjunta condenando a medida americana e prometendo “equilíbrio e firmeza” na defesa dos interesses do Brasil. Eles ressaltaram que a nova Lei de Reciprocidade Econômica permitirá ao país agir com soberania.

Nas redes sociais, a narrativa do Planalto ganhou força. Segundo o cientista político Pedro Barciela, entre 62% e 78% das postagens criticavam Trump, pediam reciprocidade e apontavam a atuação dos Bolsonaros como “crime de lesa-pátria”. O discurso bolsonarista, que tenta culpar Lula pelo impasse, teve baixo engajamento.

Tarcísio x Haddad: embate político

Tentando se posicionar ao lado de Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, criticou Lula por “colocar a ideologia acima da economia” e cancelou compromissos para almoçar com o ex-presidente em Brasília. A atitude foi vista como tentativa de afagar a base bolsonarista, já que Tarcísio é cotado para disputar a Presidência em 2026, caso Bolsonaro continue inelegível.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, rebateu duramente: “Tarcísio está se candidatando a vassalo”, ironizou, ao defender que o país não pode se curvar diante de “uma agressão unilateral sem nenhum fundamento econômico”.

Imprensa repudia tarifa e cobra Bolsonaro

Os três principais jornais do país publicaram editoriais condenando a medida americana e atribuindo a crise ao bolsonarismo. A Folha de S.Paulo classificou a atitude de Trump como “chantagem rasteira”, enquanto O Estado de S.Paulo destacou “o mal que Bolsonaro causa ao Brasil”. Já O Globo defendeu a independência do Judiciário e reforçou que não há perseguição, mas aplicação da lei.

A crise marca um dos momentos mais delicados da diplomacia Brasil-EUA nas últimas décadas, envolvendo política externa, comércio e os desdobramentos da tentativa de golpe de 2022. Enquanto o governo busca preservar a economia nacional, a aliança entre Bolsonaro e Trump se torna o principal alvo político e diplomático.

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