Após tarifaço de Trump, Brasil prepara defesa do Pix contra acusações dos EUA

Um dia após enviar uma carta contundente ao governo dos Estados Unidos em protesto contra o tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump, o Brasil se mobiliza para proteger o sistema de pagamentos Pix, que passou a ser alvo direto de uma investigação comercial americana. A ofensiva norte-americana, que classificou o Pix como uma possível prática desleal no setor de pagamentos eletrônicos, foi recebida com indignação pelas autoridades brasileiras.

A resposta ao novo ataque deve seguir o tom adotado na carta assinada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo chanceler Mauro Vieira, enviada na terça-feira (16) ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante comercial Jamieson Greer. O documento expressa “indignação” com a postura do governo Trump, reforçando que o Brasil não aceitará interferência externa em políticas consolidadas e de interesse nacional.

Lançado em 2020 pelo Banco Central, o Pix revolucionou o sistema financeiro brasileiro ao oferecer transferências instantâneas e gratuitas, com ampla adesão da população e impacto direto na receita de bancos tradicionais, operadoras de cartão e gigantes do setor como Apple Pay e Google Pay. Em 2024, o sistema movimentou mais de R$ 26,4 trilhões em transações — desempenho que agora é visto como ameaça por empresas americanas.

No relatório preliminar do Escritório do Representante de Comércio dos EUA, o Pix é listado como um dos elementos que poderiam “onerar ou restringir o comércio dos Estados Unidos”, ao lado de outras críticas, como barreiras não tarifárias, desmatamento na Amazônia e até mesmo a alegada falta de respeito à propriedade intelectual, citando a famosa Rua 25 de Março, em São Paulo.

A movimentação americana é vista por especialistas como parte de uma escalada protecionista de Trump, que busca proteger o setor privado dos EUA diante da crescente competitividade internacional. A ausência de sinalizações claras da Casa Branca sobre o tema, segundo diplomatas brasileiros, tem dificultado o avanço de uma solução negociada.

Em resposta, o governo brasileiro articula uma estratégia diplomática e institucional. O vice-presidente Alckmin, que coordena os esforços frente à disputa comercial, se reuniu com os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que colocaram o Congresso à disposição para defender a soberania nacional.

“O Congresso está alinhado com o Executivo na defesa dos interesses do Brasil. O Pix é uma inovação brasileira e representa um avanço no acesso da população ao sistema financeiro”, declarou Alcolumbre. Uma comitiva de senadores deve viajar a Washington no fim do mês para dialogar com parlamentares americanos e apresentar a posição do país.

Além disso, autoridades brasileiras reiteraram que o Pix é uma política de Estado, consolidada, e que não será alterada por pressões externas. A expectativa é de que o Brasil apresente formalmente sua defesa junto aos órgãos competentes de comércio internacional, argumentando que o sistema é transparente, acessível e alinhado às melhores práticas regulatórias.

Mesmo em meio às disputas comerciais, o governo mantém a disposição para o diálogo. Mas, como demonstram os últimos movimentos, o tom agora é de firmeza — e o Pix virou símbolo dessa nova fase de resistência do Brasil no cenário global.