“Ainda Estou Aqui” Faz História e Coloca o Brasil na Disputa do Oscar 2025

O Oscar de 2025 já entrou para a história do cinema brasileiro, com uma marca inédita que promete reverberar por muito tempo: pela primeira vez, um longa-metragem nacional, Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, é indicado ao cobiçado prêmio de Melhor Filme. O filme também disputa o prêmio de Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, com Fernanda Torres, que faz história ao seguir os passos da mãe, Fernanda Montenegro, que já foi indicada em 1999 por Central do Brasil.

A concorrência é forte. Emilia Pérez, um musical que conta a história de um chefão do tráfico mexicano que passa por uma cirurgia de redesignação sexual, lidera as indicações com 13 categorias. O Brutalista, épico histórico sobre a experiência do imigrante, e Wicked, adaptação para as telas de um sucesso da Broadway, seguem com 10 indicações cada. Outros filmes como Conclave, thriller sobre a eleição de um novo papa, e Um Completo Desconhecido, sobre os primeiros anos de Bob Dylan, também estão na disputa, com 8 indicações.

Em uma cerimônia que coincidirá com o domingo de Carnaval, os vencedores serão anunciados em Los Angeles, mas, desde já, o Brasil celebra. A notícia das três indicações para o filme brasileiro gerou uma onda de felicitações, que chegaram de artistas, políticos e anônimos. O presidente Lula não escondeu o orgulho e parabenizou a equipe do filme: “Quanto orgulho!”, postou o presidente. Para Fernanda Montenegro, a mãe de Fernanda Torres, ver sua filha atingir um feito tão grandioso foi um momento de emoção: “Meu coração de mãe está em estado de graça”, escreveu, aos 95 anos.

Chico Paiva, neto de Rubens e Eunice Paiva, não poderia deixar de comentar o impacto das indicações: “Saber que a história da nossa família é um símbolo da memória, do resgate que foi a luta contra a ditadura, é um final feliz para uma história que começou como uma tragédia, e muito nos honra.”

O clima de celebração se intensificou ainda mais quando a história pessoal de Fernanda Torres, contada em uma entrevista de 1998 ao programa Roda Viva, viralizou. Em um trecho da entrevista, Fernanda recorda a previsão de um tio de que um dia ela chegaria ao Oscar. Na época, ela descartou a ideia, afirmando que o Oscar “não rolaria nunca”. A recente indicação trouxe uma surpresa até para os críticos internacionais.

O Hollywood Reporter destacou Fernanda Torres como a “azarona do Oscar”, enquanto Deadline ressaltou o sucesso do filme. Para o New York Times, a indicação de Ainda Estou Aqui foi uma grande surpresa, especialmente na categoria de Melhor Filme, refletindo o impacto do Globo de Ouro na visibilidade do filme e a mobilização dos fãs nas redes sociais.

Críticos renomados também comentaram sobre a força do longa. O crítico do Washington Post, Ty Burr, disse que o filme é “um épico dentro de um épico”, abordando a história de uma família no contexto tumultuado da ditadura militar. Já Sonia Rao, do Washington Post, chamou Ainda Estou Aqui de uma das grandes surpresas do Oscar.

O filme, segundo o cineasta Leonardo Sanchez, tem uma importância ainda maior por tratar de um dos capítulos mais sombrios da história do Brasil, lembrando a ascensão de um discurso que rejeita os horrores da ditadura militar. “Para além da guerra ideológica que se instaurou no Brasil, as indicações desta semana também servem de injeção de otimismo num setor cambaleante desde a pandemia de Covid-19”, destacou Sanchez.

A crítica de Renata Almeida Magalhães destaca que Ainda Estou Aqui é o resultado da insistência e da evolução do cinema brasileiro: “É um filme que nos faz lembrar que o Brasil vale a pena. Continuamos únicos e interessantes, capazes de fazer com que uma história profundamente brasileira se conecte com o mundo.”

O Brasil agora se encontra em um momento de celebração histórica, com os olhos voltados para o Oscar 2025, onde Ainda Estou Aqui já se tornou um símbolo do poder do cinema nacional no cenário mundial.