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A Santa Casa de Misericórdia de Salvador, fundada em 1549 e localizada no coração da cidade, é um exemplo notável de como a preservação do patrimônio histórico pode ser alcançada por meio de esforços contínuos e estratégias adaptativas. A instituição, que já desempenhou um papel crucial na assistência social e na saúde desde o período colonial, hoje abriga diversos bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), incluindo o Palacete da Misericórdia, a Igreja da Misericórdia, e outros edifícios e espaços culturais.

História e Crescimento

Com a fundação da Santa Casa, a iniciativa partiu da Rainha de Portugal D. Leonor de Lencastre como parte do processo expansionista português. O objetivo principal era a criação de uma associação beneficente voltada para o cuidado de enfermos, e com o tempo, a instituição foi se adaptando e se expandindo. Pablo Magalhães, historiador e professor da Universidade Federal do Oeste da Bahia, destaca que, com o tempo e escassez de recursos, a Santa Casa se diversificou, investindo em áreas comerciais e imóveis alugados, garantindo sua autossustentabilidade.

Preservação e Restauração

A preservação do patrimônio físico é uma das grandes preocupações da Santa Casa. Em 2006, um museu foi criado no Palacete da Misericórdia, e, a partir de então, a instituição iniciou um planejamento estratégico para identificar e mitigar riscos às suas estruturas. Vistorias regulares são realizadas pela equipe de engenharia da Santa Casa, garantindo que o patrimônio se mantenha em boas condições.

O Palacete da Misericórdia, datado de 1549, passou por diversos estágios de transformação ao longo dos séculos, desde construções rústicas até a utilização de materiais mais sofisticados como alvenaria e pedras, impulsionados pela mão de obra indígena e o dinheiro proveniente do açúcar. Durante a invasão holandesa, em 1622, os edifícios da Santa Casa sofreram vandalismos, mas, com o tempo, a instituição conseguiu se restaurar e seguir sua missão.

Investimentos e Projetos de Restauração

As intervenções de restauração foram realizadas com recursos próprios, mas também com o apoio de investimentos externos. A Lei Rouanet e a Fundação Calouste Gulbenkian, de Lisboa, viabilizaram a restauração da igreja e os azulejos portugueses, que datam do século 18. A restauração das pinturas e imagens da igreja foi realizada com a ajuda de recursos públicos e privados. Em 2021, foi concluído um grande projeto de recuperação, que envolveu a infraestrutura do edifício e a conservação de pinturas e imagens históricas.

Além da preservação física, a Santa Casa também busca manter viva a sua memória cultural. Um centro de memória gerido pela própria instituição foi criado na Pupileira, e diversas publicações sobre sua história já foram lançadas, contribuindo para a preservação da história de quatro séculos de atividade.

Integração com a Comunidade

José Antônio Rodrigues Alves, provedor da Santa Casa, enfatiza que o objetivo não é apenas a preservação do patrimônio como um bem cultural, mas também a integração da instituição com a comunidade. A criação de um fundo de cultura interno permite à Santa Casa financiar suas próprias iniciativas de preservação, como a recuperação de quadros e painéis que datam do período Barroco. Além disso, a instituição planeja realizar exposições de artistas baianos e retomar as missas e eventos culturais na igreja até 2025.

Desafios e Perspectivas Futuras

Os desafios são muitos, especialmente quando se trata de preservação de patrimônio histórico em um contexto de escassez de recursos e a necessidade de atualização constante das estruturas físicas. No entanto, a Santa Casa de Misericórdia de Salvador continua a ser um modelo de como patrimônios históricos podem ser preservados e mantidos vivos, integrados à vida cultural da cidade e ao mesmo tempo sustentados por recursos próprios.

Para os especialistas, o segredo dessa preservação está em manter o patrimônio vivo. Ao longo dos séculos, a Santa Casa sempre foi uma instituição ligada a elites locais, o que garantiu acesso a recursos financeiros e políticos importantes para sua manutenção. Isso se reflete nas ações de preservação que hoje permitem que a Santa Casa continue a cumprir seu papel social e cultural na cidade, enquanto preserva sua memória histórica.

Em um mundo onde o tempo passa, e o patrimônio histórico pode se perder, o exemplo da Santa Casa da Misericórdia em Salvador oferece uma lição de resiliência e dedicação à preservação.

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