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Enquanto o governo brasileiro tenta lidar com os impactos políticos e econômicos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos, o mundo observa com crescente preocupação os efeitos colaterais da nova política comercial norte-americana. A iniciativa do ex-presidente Donald Trump, que impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e anunciou uma taxação de 30% sobre as importações da União Europeia, ameaça provocar uma reconfiguração global do comércio e abrir um novo ciclo de tensões comerciais.

O anúncio da medida contra os europeus foi feito no fim de semana e levou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a reagir com firmeza. Embora tenha defendido a continuidade do diálogo com Washington, ela também afirmou que a UE já elabora planos de retaliação, sinalizando que o clima de disputa deve se intensificar nas próximas semanas. A União Europeia vê a atitude dos EUA como um rompimento unilateral das regras do mercado internacional e estuda alinhar-se a outras potências comerciais em busca de novos parceiros mais confiáveis.

Nesse cenário, especialistas alertam para um possível redesenho do mapa do comércio global, com blocos econômicos buscando diversificar suas relações comerciais e reduzir a dependência dos Estados Unidos. A desconfiança em relação à estabilidade das políticas comerciais norte-americanas já afeta cadeias produtivas em diversos setores, do agronegócio à indústria pesada.

Nos Estados Unidos, o impacto também já é sentido no dia a dia dos consumidores. Um dos exemplos mais simbólicos é o café, produto altamente importado pelo país. Em 2024, mais de 8,1 milhões de sacas de café brasileiro, com 60 quilos cada, chegaram ao mercado norte-americano. Agora, com a possibilidade de taxação elevada, o preço da bebida pode subir consideravelmente. “Qualquer mudança repentina seria uma situação de perda para todos”, afirma Guilherme Morya, analista de café do Rabobank, em São Paulo.

A preocupação não é apenas com o aumento de preços, mas também com a disrupção nas cadeias logísticas e com os efeitos sobre a inflação nos EUA, que ainda sente os reflexos da pandemia e da guerra na Ucrânia. O café é apenas um dos exemplos. Celulose, cacau, pneus, algodão e outros produtos agrícolas e industriais brasileiros também estão no alvo da nova política tarifária americana, com impactos diretos para consumidores e produtores dos dois lados.

A agressiva postura comercial de Trump, que lidera as pesquisas para a eleição presidencial de 2026, tem sido interpretada por analistas como parte de uma estratégia geopolítica, mas também como instrumento de barganha interna, especialmente no contexto das pressões sobre o governo Biden e os processos contra Jair Bolsonaro. O uso da política comercial como moeda de troca política reacende alertas em instituições multilaterais e entre os principais parceiros econômicos dos Estados Unidos.

Com a credibilidade internacional abalada e a pressão interna aumentando, cresce o risco de um isolamento econômico progressivo dos EUA, justamente no momento em que o mundo busca maior previsibilidade, estabilidade e cooperação para enfrentar desafios como a transição energética, as crises climáticas e a recuperação econômica.

A depender dos próximos passos de Washington — e da reação coordenada de Brasil, União Europeia e demais parceiros —, o mundo pode estar diante do início de uma nova era no comércio internacional, marcada menos pela confiança e mais pela disputa geopolítica.

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