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PF revela bastidores da trama golpista e intrigas internas entre Bolsonaro e aliados

O relatório da Polícia Federal, que embasa o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), revela o funcionamento interno da campanha bolsonarista para impedir a condenação do ex-mandatário e pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF). O documento, entregue à Corte na última sexta-feira (15), detalha as estratégias utilizadas por Bolsonaro e aliados, inclusive nos Estados Unidos, para garantir sua anistia e deslegitimar decisões judiciais.

A análise técnica do celular de Bolsonaro, apreendido por ordem do ministro Alexandre de Moraes, trouxe à tona áudios, mensagens e vídeos apagados, agora recuperados pela PF. O conteúdo revela o descumprimento sistemático das medidas cautelares impostas ao ex-presidente, além da articulação com outros investigados e a tentativa explícita de manipular instituições brasileiras e internacionais em benefício próprio.

Uma das revelações mais graves do relatório é a existência de um documento salvo no aparelho com o título “Minuta revisão final.docx”, que detalharia um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes. O mesmo dispositivo também armazenava a minuta de um pedido de asilo político ao presidente da Argentina, Javier Milei, datado de fevereiro de 2024. No texto, Bolsonaro se apresenta como vítima de perseguição política, embora o documento nunca tenha sido enviado oficialmente.

Além do ex-presidente e seu filho, o pastor Silas Malafaia também passou a ser alvo das investigações. Abordado no Aeroporto Internacional do Galeão após desembarcar de um voo vindo de Lisboa, Malafaia teve o celular apreendido, foi interrogado no local e teve seus passaportes cancelados. Está agora proibido de deixar o país. Moraes o acusa de coação no curso do processo e obstrução de investigações que envolvem organização criminosa.

A Polícia Federal encontrou diversas conversas entre Malafaia e Bolsonaro. Em uma delas, o pastor critica Eduardo Bolsonaro, chamando-o de “babaca”, e se mostra contrário à campanha promovida pelo deputado nos EUA, em defesa de sanções ao Brasil. Também orienta o ex-presidente e o senador Flávio Bolsonaro sobre como agir diante da crise do tarifaço e propõe estratégias para enfraquecer o STF.

As conversas extraídas do celular de Bolsonaro revelam ainda tensões dentro do próprio núcleo familiar. Eduardo Bolsonaro, incomodado com o apoio do pai ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, chega a escrever: “VTNC SEU INGRATO DO C……”. A ruptura expõe não apenas disputas políticas internas, mas também a instabilidade de um grupo que busca se manter unido diante da pressão judicial e do iminente julgamento.

Outro trecho do relatório indica que Bolsonaro teve acesso prévio à defesa do general Mário Fernandes, acusado de envolvimento na tentativa de golpe. Pai e filho também discutiam formas de influenciar o governo americano para que pressionasse as instituições brasileiras contra uma eventual condenação do ex-presidente. Entre os temas debatidos estava a resposta à carta de Donald Trump sobre o tarifaço imposto ao Brasil.

O ministro Alexandre de Moraes deu 48 horas para que Jair Bolsonaro se manifeste sobre o descumprimento das medidas cautelares. Segundo o despacho, os novos elementos reforçam “a reiteração das condutas ilícitas e a existência de comprovado risco de fuga”.

Para analistas políticos, a divulgação das provas às vésperas do julgamento final de Bolsonaro, previsto para 2 de setembro, cumpre um papel estratégico. Segundo a jornalista Carolina Brígido, “áudios, transcrições de mensagens e vídeos comovem a opinião pública” e preparam o terreno para uma condenação considerada “inevitável” pelo STF.

A trama revelada pela PF escancara a profundidade da crise política e judicial enfrentada pelo ex-presidente, ao mesmo tempo em que desnuda os bastidores de um movimento que, até recentemente, operava nas sombras da institucionalidade.

Enfrentamento à letalidade policial e prevenção à violência são temas do Comitê de Governança do Bahia pela Paz

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