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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ao governo federal o protagonismo na megaoperação “Carbono Oculto”, que escancarou o envolvimento de organizações criminosas com o centro financeiro do país e desbaratou um bilionário esquema de lavagem de dinheiro e fraudes no setor de combustíveis. Com atuação de mais de 1,4 mil agentes federais e estaduais em dez estados, a ação foi descrita por Lula como “a maior resposta ao crime organizado da nossa história até aqui”.

Durante pronunciamento, o presidente destacou o papel da União na articulação e inteligência da investigação, fruto do trabalho do Núcleo de Combate ao Crime Organizado, criado no Ministério da Justiça. “O trabalho integrado permitiu acompanhar toda a cadeia e atingir o núcleo financeiro que sustenta essas práticas”, afirmou, elogiando o desempenho dos órgãos federais envolvidos.

A centralização do combate ao crime organizado no governo federal é um dos pilares da PEC da Segurança Pública, proposta pelo Executivo e atualmente em análise no Congresso. A operação surge como vitrine dessa proposta, num momento em que o Planalto também tenta responder às críticas veladas do governo dos Estados Unidos, que, sob a administração de Donald Trump, tem insinuado que o Brasil é leniente no enfrentamento de facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC). Há, inclusive, movimentações americanas para classificar essas facções como grupos terroristas — o que abriria espaço para sanções e até ações militares extraterritoriais.

Em Brasília, os ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da Fazenda, Fernando Haddad, detalharam os desdobramentos da operação. Segundo a investigação, a região da Faria Lima, em São Paulo, epicentro do mercado financeiro brasileiro, abrigava dezenas de fintechs e empresas ligadas ao esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo PCC. Apenas no edifício Birmann 32, dez empresas envolvidas estavam sediadas; outras 15 funcionavam no mesmo endereço na Rua Joaquim Floriano, 100.

De acordo com a Receita Federal, cerca de 40 fundos de investimento foram identificados no esquema, com patrimônio combinado superior a R$ 30 bilhões. Os fundos, de perfil fechado e com apenas um cotista, eram utilizados para ocultar patrimônio, comprar usinas de álcool, terminais portuários, imóveis e até 1,6 mil caminhões para transporte de combustível.

A operação também revelou indícios de que políticos ligados à direita e ao Centrão usavam o sistema de lavagem para movimentar recursos ilícitos provenientes de corrupção. A investigação, segundo o jornalista Lauro Jardim, deve alcançar novos alvos nos próximos dias, incluindo lideranças partidárias.

Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tentou capitalizar politicamente a operação, parabenizando o Gaeco e as polícias estaduais, sem mencionar a atuação federal. O caso expôs uma disputa de narrativa entre o Planalto e o governo paulista sobre o protagonismo no combate ao crime.

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, alertou que o esquema de lavagem não era exclusivo do PCC, e que outras organizações criminosas também podem ter se beneficiado da estrutura montada na Faria Lima.

A operação também levou à fuga de importantes alvos, como Roberto Augusto Leme Silva, o “Beto Louco”, e Mohamad Hussein Mourad, o “Primo”, apontados como líderes do grupo Aster/Cocape, distribuidor de combustíveis e braço logístico do PCC no esquema. Ambos são considerados foragidos da Justiça, e a PF investiga possível vazamento de informações sobre os mandados.

Na esteira da operação, o governo anunciou novas medidas para aumentar o controle sobre as fintechs. O ministro Haddad confirmou a publicação, nesta sexta-feira, de norma que equipara essas empresas às instituições financeiras regulares, ampliando o poder de fiscalização da Receita Federal. O órgão também usará inteligência artificial para rastrear operações suspeitas.

Segundo Vera Rosa, a operação foi vista pelo governo como a oportunidade ideal para enquadrar as fintechs sem enfrentar a resistência enfrentada em janeiro, quando uma tentativa de ampliar o monitoramento foi desmobilizada por uma onda de desinformação nas redes sociais. O secretário da Receita, Robinson Barreirinhas, afirmou que a revogação da norma na época foi causada por “fake news” lideradas por parlamentares, como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que espalharam a falsa ideia de uma “taxação do Pix”.

Com a Carbono Oculto, o governo Lula reforça sua estratégia de enfrentamento ao crime organizado, aposta na regulação das finanças digitais e busca reafirmar seu controle sobre a segurança pública — tanto no cenário interno quanto nas relações internacionais.

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