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Líderes discutem cooperação estratégica, enquanto governo brasileiro enfrenta crise diplomática e econômica com Washington

SALVADOR — Em meio às crescentes tensões comerciais com os Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou por telefone nesta terça-feira (12) com o presidente da China, Xi Jinping, por cerca de uma hora. Segundo a imprensa chinesa, Xi afirmou que a China está “pronta para trabalhar com o Brasil para estabelecer um exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do Sul Global”. O líder chinês também manifestou apoio ao povo brasileiro “na defesa de sua soberania nacional”.

Durante o telefonema, solicitado por Lula, os presidentes reafirmaram o compromisso de ampliar a cooperação bilateral em áreas como saúde, petróleo e gás, economia digital e desenvolvimento de satélites. Xi também defendeu que os países do Brics atuem em conjunto para proteger os direitos dos países em desenvolvimento e para manter as normas internacionais.

O contato com Xi ocorre dias após conversas telefônicas de Lula com os líderes da Rússia, Vladimir Putin, e da Índia, Narendra Modi. Os três países, junto com o Brasil, integram o bloco Brics, que tem sido criticado pelo ex-presidente e atual candidato Donald Trump como sendo “anti-Estados Unidos”. Apesar disso, Trump prorrogou por 90 dias uma trégua tarifária com a China, enquanto impôs um tarifaço ao Brasil.

Crise com os EUA e interferência política interna

A primeira reunião de alto nível entre os governos brasileiro e americano para discutir o tarifaço foi cancelada. O encontro virtual, marcado para esta quarta-feira (13), entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, foi suspenso após atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) junto ao governo Trump.

Em entrevista à GloboNews, Haddad responsabilizou diretamente o parlamentar pela interferência:

“A militância antidiplomática dessas forças de extrema direita que atuam junto à Casa Branca tomou conhecimento da minha fala […] e agiram junto a alguns assessores do presidente Trump”, afirmou.
Eduardo Bolsonaro, por sua vez, negou responsabilidade e atacou o ministro: “Haddad prefere culpar terceiros por sua incompetência”.

O ministro também criticou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, por sugerir que uma ligação de Lula a Trump resolveria o impasse:

“Ele está sendo um pouco ingênuo. Talvez uma pessoa que ainda não tem traquejo nas Relações Internacionais”, disse Haddad.
Tarcísio rebateu: “Cabe a Haddad falar menos e trabalhar mais”.

Medidas econômicas e disputas políticas

Para mitigar os impactos do tarifaço sobre os exportadores brasileiros, Haddad anunciou uma medida provisória que será apresentada ainda hoje por Lula. O texto prevê ações em três frentes: financiamentos, incentivos tributários e ajustes nas compras governamentais, além de reformas estruturais para ampliar instrumentos de apoio à exportação.

Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro, em entrevista ao Financial Times, afirmou que o governo americano considera novas sanções contra o Brasil. Segundo ele, Trump avalia desde a retirada de vistos até sanções diretas contra autoridades brasileiras.

A atuação do deputado provocou reação política no Brasil. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que o Conselho de Ética analisará a conduta de Eduardo. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, classificou a postura como “totalmente inadequada”.

Ações do governo brasileiro e reação dos EUA

O governo montou uma força-tarefa para contestar oficialmente o tarifaço nos Estados Unidos, com o apoio do escritório de advocacia americano Baker McKenzie. O primeiro documento será entregue ao Escritório do Representante de Comércio dos EUA no próximo dia 18 de agosto.

Paralelamente, um relatório do Departamento de Estado dos EUA sobre direitos humanos, que será enviado ao Congresso nesta terça-feira, incluirá críticas ao Brasil. Segundo o Washington Post, o texto acusa o governo brasileiro de perseguir Jair Bolsonaro e cita o ministro Alexandre de Moraes por ordenar a suspensão de mais de 100 perfis de apoiadores da extrema direita na rede social X (ex-Twitter).

O bolsonarismo em xeque

Em meio às disputas, o debate sobre o futuro do bolsonarismo segue intenso. Em entrevista recente ao programa “Meio em Vídeo”, o cientista político Sérgio Abranches defendeu que o movimento já entrou em declínio. Em contraste, manchete da Folha de S.Paulo do último sábado argumenta que a polarização entre petistas e bolsonaristas ainda domina o cenário político nacional.

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