0

A poucas horas da entrada em vigor das tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros impostas unilateralmente pelo ex-presidente americano Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a acusar o governo norte-americano de usar as sanções como ferramenta de pressão política e eleitoral.

“Trump não tinha o direito de anunciar taxações como fez com o Brasil. Ele podia ter pegado o telefone, ligado para mim, para o Alckmin. Estaríamos aptos a conversar. O pretexto da carta de Trump não é político, é eleitoral”, afirmou Lula, durante discurso no Palácio do Planalto, após a reunião do Conselhão nesta quarta-feira (6).

O presidente brasileiro ainda revelou que pretende telefonar para Trump nos próximos dias para convidá-lo oficialmente para a COP 30, que será realizada em Belém (PA) em novembro. Em gesto de tentativa de diálogo, Lula declarou estar disposto a discutir o acesso dos Estados Unidos às reservas brasileiras de terras raras e minerais críticos, embora tenha sido enfático: “Não permitiremos exploração sem debate nacional”.

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, demonstrou alguma cautela ao tratar do impacto das tarifas sobre produtos brasileiros, afirmando que ainda pode haver uma “surpresa” no posicionamento dos Estados Unidos em relação ao café e à carne, dois itens estratégicos para o comércio bilateral que ficaram de fora da lista de isenções divulgada por Washington.

Segundo Tebet, os dois produtos são essenciais para o mercado americano, e a expectativa é de que a Casa Branca reavalie sua posição diante dos impactos negativos que a sobretaxa pode causar também nos Estados Unidos.

Enquanto isso, o Palácio do Planalto trabalha em medidas emergenciais para tentar blindar setores da economia nacional atingidos pelas tarifas. De acordo com informações da colunista Letícia Casado, seis caminhos estão em análise, entre eles: crédito subsidiado, compras governamentais de alimentos e renúncias fiscais temporárias. Técnicos alertam, porém, que os planos precisam ter escopo e duração bem definidos para evitar distorções fiscais ou benefícios permanentes.

A análise política do movimento de Trump vai além das sanções comerciais. Para o analista Creomar de Souza, colunista do Meio Político e fundador da consultoria Dharma, a decisão do ex-presidente americano sinaliza uma tentativa de reafirmar a hegemonia dos Estados Unidos na América Latina. “A imposição de tarifas por Donald Trump ao Brasil pode até ser sobre Bolsonaro, tende a ser sobre negócios, mas é sobre hegemonia”, afirmou.

A tensão comercial e diplomática se instala, assim, em um momento de instabilidade política no Brasil, com o governo tentando conter danos econômicos enquanto lida com os desdobramentos da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro e a ameaça de paralisação do Congresso.

Crise entre os Poderes se agrava após prisão domiciliar de Bolsonaro; oposição instala motim no Congresso

Artigo anterior

80 anos após Hiroshima, Japão debate futuro do pacifismo em meio a ameaças nucleares na região

Próximo artigo

Você pode gostar

Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais sobre Brasil