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No início deste mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um apelo enfático à esquerda: é preciso promover uma “revolução na rede digital”, território onde a direita e a extrema direita têm mantido hegemonia nos últimos anos. A fala, feita em evento com militantes, ecoou como um chamado à reorganização da presença progressista nas plataformas sociais. No entanto, um dos principais entraves a essa virada digital pode estar dentro do próprio Partido dos Trabalhadores.

Segundo fontes ligadas à legenda, a Meta (controladora de Facebook, Instagram e WhatsApp) e a Alphabet (dona do Google e YouTube) ofereceram ao PT uma série de oficinas sobre boas práticas digitais — com foco em engajamento, algoritmos e segurança. A proposta, porém, foi vetada por alas mais à esquerda do partido, que consideram as big techs parte do problema, não da solução. O argumento: aceitar colaboração das plataformas seria legitimar empresas acusadas de contribuir para a desinformação e a desigualdade no alcance de conteúdos políticos.

Enquanto isso, o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, já realizou pelo menos dois seminários com influenciadores e funcionários dessas mesmas empresas. O objetivo tem sido treinar quadros e otimizar a comunicação bolsonarista nas redes. A legenda também investe em canais próprios e aposta em nomes que viralizam com discursos conservadores e linguagem direta.

A diferença de abordagem reflete estratégias opostas. De um lado, a direita vem profissionalizando sua militância digital com treinamentos e investimento em conteúdo viral. De outro, parte da esquerda continua desconfiada das plataformas, mesmo diante do diagnóstico de Lula de que as redes estão “tomadas por mentiras e manipulação”.

A ausência de uma estratégia unificada e moderna preocupa assessores no Planalto, sobretudo diante da proximidade das eleições municipais de 2024 e do cenário incerto para 2026. A avaliação interna é de que a esquerda continua refém de práticas antigas e com dificuldades de formar uma nova geração de comunicadores digitais.

Para especialistas em comunicação política, o desafio do PT é conciliar crítica às plataformas com a necessidade de dominá-las tecnicamente. “Não se trata de endossar tudo que as big techs fazem, mas de entender como funcionam e usá-las de maneira eficaz. Recusar esse conhecimento técnico é entregar o campo de batalha ao adversário”, afirmou um consultor em marketing digital ouvido sob reserva.

Enquanto isso, a “revolução digital” pedida por Lula ainda patina — não por falta de oportunidade, mas por resistência interna.

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