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No segundo dia do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus que compõem o chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe de Estado, os advogados de defesa adotaram uma estratégia voltada para a redução de danos. Com a condenação considerada praticamente certa até pelas próprias defesas, a meta agora é tentar atenuar as penas e dissociar os réus das ações mais violentas.

A defesa de Bolsonaro alegou que não há provas que o vinculem diretamente aos ataques de 8 de janeiro de 2023, reforçando a tese de que as lives, discursos e reuniões lideradas por ele após as eleições de 2022 foram apenas “atos preparatórios”, sem conexão concreta com os eventos golpistas. Ainda assim, os advogados admitiram que o ex-presidente discutiu a chamada “minuta do golpe”, embora sustentem que nenhuma medida prática tenha sido tomada.

As defesas dos generais Walter Braga Netto e Augusto Heleno adotaram tom crítico em relação à delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, além de questionarem o papel do ministro Alexandre de Moraes no julgamento. A defesa de Heleno, em especial, tentou desvinculá-lo do ex-presidente, afirmando que o general havia perdido espaço no governo ainda antes do fim do mandato.

A exceção veio da defesa do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa. Em vez de atacar o STF ou levantar suspeitas sobre as provas, os advogados do militar decidiram se afastar da linha bolsonarista. Afirmaram que Nogueira tentou convencer Bolsonaro a recuar de suas intenções golpistas, inclusive entregando ao então presidente um rascunho de discurso com o objetivo de desmobilizar os acampamentos em frente aos quartéis. Segundo a defesa, o general teria atuado para preservar a coesão das Forças Armadas e evitar uma ruptura institucional.

Em um momento inusitado de sua sustentação oral, o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, comparou seu cliente ao capitão Alfred Dreyfus, militar francês injustamente condenado por espionagem no final do século 19. No entanto, a analogia foi amplamente contestada por historiadores, que a consideram descabida diante das evidências apresentadas no julgamento.

Internacionalmente, o caso também tem repercussões, embora a esperada reação do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não tenha se concretizado até agora. Nem ele, nem membros do governo norte-americano se pronunciaram sobre o processo, ao menos por enquanto, indicando possível distanciamento do tema.

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