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A disputa pelo comando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ultrapassou os limites do esporte e escancarou, mais uma vez, a interseção entre futebol, política e Judiciário no Brasil. Nesta quinta-feira (16), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro afastou Ednaldo Rodrigues da presidência da entidade, em uma decisão que pode provocar profundas mudanças nos bastidores do futebol brasileiro.

O desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro nomeou o vice-presidente Fernando Sarney — filho do ex-presidente José Sarney e ex-aliado de Ednaldo — como interventor, com a missão de convocar novas eleições “o mais rápido possível”. O afastamento ocorre após um laudo pericial confirmar a falsificação de uma das assinaturas no acordo que sustentou a eleição de Ednaldo em março deste ano. A assinatura, de responsabilidade do coronel Antônio Carlos Nunes, de 86 anos, foi contestada após revelações de que o dirigente sofre de déficit cognitivo.

A revelação, feita pelo portal Leo Dias no fim de abril, impulsionou novas ações no Supremo Tribunal Federal (STF), questionando a validade do acordo homologado em 2023 pelo ministro Gilmar Mendes. Na ocasião, Ednaldo foi reconduzido à presidência da CBF por decisão judicial, após ser destituído por um grupo de dirigentes que apontavam irregularidades no processo eleitoral.

Nos bastidores, o afastamento de Ednaldo vinha sendo considerado iminente. Fontes próximas ao ministro Gilmar Mendes indicam que a permanência do dirigente na presidência da CBF se tornou insustentável diante do desgaste institucional. Desde 2023, a entidade mantém parceria com o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), do qual Mendes é sócio e fundador. A repercussão pública desse vínculo e o crescente desgaste entre o ministro e o cartola teriam contribuído para o rompimento da aliança que, até então, sustentava Ednaldo no cargo.

Em entrevista ao UOL, Gilmar Mendes negou qualquer conflito de interesse: “O IDP aceitou uma proposta da CBF para realizar cursos, algo conduzido de forma privada. Não há conflito de interesse. O IDP emprestou seu prestígio à CBF, e não o contrário.”

Federações e bastidores em ebulição

O clima entre as federações estaduais também virou. Logo após a decisão do tribunal, 19 das 27 entidades assinaram um “Manifesto pela estabilidade, renovação e descentralização do futebol brasileiro”, sinalizando o abandono da maioria da base de apoio de Ednaldo. O documento critica a centralização de poder na CBF e pede um novo rumo para a gestão do futebol no país. Curiosamente, as federações de São Paulo e Minas Gerais — duas das mais influentes — não aderiram ao manifesto.

Fernando Sarney, nomeado interventor, liderava a oposição a Ednaldo e será agora responsável por conduzir um processo eleitoral que deve ser marcado por intensas articulações políticas.

Ancelotti e o vácuo de poder

A crise coincide com uma das decisões mais estratégicas da gestão de Ednaldo: a contratação do técnico italiano Carlo Ancelotti para a seleção brasileira. Segundo o colunista Lauro Jardim, a negociação se deu em meio à instabilidade no comando da CBF, com o italiano sendo informado de que sua contratação era unanimidade, mesmo entre os opositores de Ednaldo, para garantir sua aceitação independentemente do resultado da disputa política.

Futebol como palco da política

Autor de uma série de reportagens sobre os bastidores da CBF, o jornalista Allan de Abreu destacou, em entrevista ao Central Meio, a forte influência de atores políticos e judiciais sobre a entidade. Nomes como o ministro Gilmar Mendes e o presidente da Câmara, Arthur Lira, são apontados como peças-chave nos arranjos institucionais que moldam o destino da confederação.

Com a interferência direta da Justiça, a crise da CBF escancara como o futebol brasileiro continua sendo terreno fértil para disputas de poder que ultrapassam o gramado. O próximo capítulo dependerá não apenas das decisões jurídicas, mas também das movimentações políticas que, cada vez mais, definem os rumos da principal entidade esportiva do país.

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