0

O dia seguinte ao tarifaço: governo Lula define estratégias diante das sanções americanas

Após a oficialização do tarifaço dos Estados Unidos e das sanções impostas ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, o governo brasileiro iniciou, na quinta-feira (31), uma intensa articulação política e diplomática para definir a resposta do país. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva dedicou o dia a reuniões com sua equipe ministerial e com integrantes do STF, em busca de estratégias conjuntas para enfrentar a nova crise.

No Palácio do Planalto, Lula se reuniu com os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Alexandre Padilha (Saúde), Rui Costa (Casa Civil) e com o secretário de Comunicação, Sidônio Palmeira. O vice-presidente Geraldo Alckmin não participou do encontro por estar em São Paulo, onde foi entrevistado no programa “Mais Você”, da Rede Globo.

Apesar da gravidade do cenário, o presidente decidiu que as medidas econômicas só serão anunciadas na próxima semana. À noite, ofereceu um jantar aos ministros do Supremo para discutir formas de defesa ao colega Alexandre de Moraes, sancionado pela chamada Lei Magnitsky, legislação americana voltada à punição de autoridades estrangeiras acusadas de corrupção ou violação de direitos humanos.

Além do esforço interno, Lula deve se dirigir à população em pronunciamento por cadeia nacional de rádio e TV. A mensagem, ainda sem data definida — pode ir ao ar nesta sexta-feira ou domingo —, terá como foco a defesa da soberania nacional e do Judiciário brasileiro, e uma crítica explícita à tentativa de interferência externa nos assuntos internos do país.

Tarifaço será contestado na OMC

O governo brasileiro também anunciou que irá recorrer das tarifas de 50% impostas aos produtos nacionais que ficaram fora da lista de isenções norte-americana. Mesmo reconhecendo a fragilidade atual da Organização Mundial do Comércio (OMC), o Planalto acredita que o recurso tem valor simbólico e reafirma a posição do Brasil no cenário multilateral.

Segundo o ministro Fernando Haddad, a decisão americana de isentar quase 700 produtos revela uma abertura para o diálogo. “Esta semana é o começo de uma conversa mais racional, mais sóbria, menos apaixonada”, declarou. Ele afirmou ainda que o Brasil buscará contestar as tarifas “nas instâncias devidas”, incluindo fóruns jurídicos e comerciais internacionais.

Em Washington, já surgem indícios de que o presidente Donald Trump poderá abrir um canal de negociação com o Brasil. No entanto, segundo fontes do setor empresarial americano, isso não deve ocorrer imediatamente. A Casa Branca deve priorizar países com superávit comercial frente aos Estados Unidos — o que não é o caso do Brasil, que mantém déficit crônico.

Reações no Brasil e nos EUA

A ofensiva de Trump teve impacto imediato na opinião pública brasileira. De acordo com pesquisa Datafolha, 89% dos brasileiros acreditam que o tarifaço trará prejuízos à economia nacional. Já 57% dos entrevistados consideram que o presidente americano está errado ao impor sanções a Alexandre de Moraes, especialmente no contexto do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nas redes sociais, levantamento da Quaest mostra que 60% das postagens relacionadas ao episódio foram negativas.

Na oposição, a reação foi marcada por desorganização e divergências. Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais e pré-candidato ao Planalto, disse que Moraes “colheu o que plantou” e criticou a participação do Brasil nos Brics. Já o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, expulsou sumariamente o deputado Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), após críticas ao governo Trump. Por sua vez, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), apontado como um dos articuladores das sanções, enviou recados aos ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, sugerindo que podem ser os próximos alvos de Washington.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o tarifaço começa a ser questionado judicialmente. Os 11 juízes de uma corte de apelações em Washington ouviram representantes do governo americano sobre a legalidade das medidas tarifárias impostas sem aval do Congresso. A maioria dos magistrados demonstrou ceticismo diante das justificativas apresentadas, mas ainda não há previsão de decisão.

Um ataque articulado?

A colunista Eliane Cantanhêde, em duro artigo, afirmou que os ataques dos EUA têm o dedo de Jair Bolsonaro e seus aliados. “Como as Forças Armadas não embarcaram na aventura em 2023, recorreram a Donald Trump para terminar o serviço. É assustador um ex-presidente, um deputado desertor e um imigrante brasileiro estarem por trás desse ataque dos EUA ao país”, escreveu.

O governo Lula, agora, busca transformar a crise em uma demonstração de união institucional e de reafirmação da soberania nacional. A semana que vem será decisiva para avaliar a capacidade do Brasil de resistir à ofensiva externa sem comprometer sua estabilidade econômica e política.

Jerônimo Rodrigues entrega Medalhas da Ordem 2 de Julho em cerimônia no MAC Bahia, nesta quinta (31)Jerônimo Rodrigues entrega Medalhas da Ordem 2 de Julho em cerimônia no MAC Bahia, nesta quinta (31)

Artigo anterior

Liga Árabe exige desarmamento do Hamas e entrega de Gaza à Autoridade Palestina

Próximo artigo

Você pode gostar

Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais sobre Brasil