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Governo sofre derrota na Câmara com rejeição da MP do IOF e perde R$ 17 bilhões em arrecadação prevista para 2026

A maré de vitórias recentes do governo Lula sofreu um reverso contundente nesta quarta-feira (9), com a derrubada da medida provisória que ampliava a cobrança do IOF sobre operações financeiras. Mesmo após semanas de negociação intensa e concessões à maioria das demandas do Congresso, o Planalto amargou uma derrota política e fiscal, com 251 votos contrários e apenas 193 favoráveis à MP, que caducou no mesmo dia.

A medida, considerada estratégica pela equipe econômica, previa elevação da alíquota do IOF para fintechs e buscava aumentar a arrecadação em R$ 17 bilhões no próximo ano. O governo chegou a manter a isenção para os títulos ligados ao agronegócio e ao setor imobiliário, mas insistiu na taxação das empresas de tecnologia financeira — o que desagradou bancadas influentes e setores do mercado.

Enquanto a Faria Lima comemorava a rejeição do texto, integrantes do governo corriam para conter os danos. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, passou o dia no Congresso tentando reverter o resultado. Após a derrota, foi categórica:
“Hoje ficou claro que a pequena parcela muito rica do país não admite que seus privilégios sejam tocados. Não querem pagar impostos como a maioria dos cidadãos.”

Mais cedo, o próprio presidente Lula já havia sinalizado a insatisfação com a postura do Congresso, chamando o possível fracasso da MP de “pobreza de espírito”. A declaração foi vista como um reflexo da tensão crescente entre o Executivo e o Legislativo nas discussões sobre a política fiscal.

Impacto nas contas públicas

A queda da medida representa não apenas um revés político, mas também um desafio concreto para o cumprimento das metas fiscais. O governo contava com os recursos adicionais da MP para buscar um superávit primário de 0,25% do PIB em 2026, cerca de R$ 34 bilhões. Sem essa fonte de receita, o Ministério da Fazenda já trabalha com alternativas para compensar as perdas, como novas MPs ou regulamentações infralegais, por meio de portarias e instruções conjuntas.

Apesar do baque, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, descartou, por ora, mudanças na meta fiscal que prevê déficit de até R$ 31 bilhões em 2026. “Continuaremos perseguindo os mesmos objetivos”, afirmou o ministro, sinalizando que o governo pretende manter o compromisso com a estabilidade fiscal, mesmo sem os R$ 17 bilhões que seriam garantidos pela MP.

Vitórias do setor financeiro e das apostas

A comentarista Malu Gaspar, do jornal O Globo, sintetizou o cenário político e econômico pós-derrubada da MP com ironia:
“Independentemente do diagnóstico para a rejeição da MP, não há dúvida de que as bets saíram ganhando. O Tigrinho permanece firme e forte. Hoje, não há páreo para ele em Brasília.”

A referência ao popular jogo de apostas online simboliza a força dos lobbies digitais e financeiros no atual cenário político — um dos fatores que contribuíram para o enfraquecimento da proposta do governo.

Próximos passos

A votação também evidenciou um Congresso mais refratário às pautas de arrecadação e reforçou o desafio do governo em aprovar medidas que toquem em interesses de setores economicamente poderosos. O Planalto ainda avalia os próximos movimentos, enquanto a equipe econômica acelera estudos para mitigar os efeitos fiscais da derrota.

A lista com os votos de cada deputado será divulgada oficialmente nas próximas horas e deve alimentar o debate entre base governista, oposição e setores da sociedade civil.

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