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Em meio a uma intensa disputa política, o debate sobre um possível projeto de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro tem inflamado os bastidores de Brasília e provocado reações em diferentes frentes de poder. O ponto mais explosivo da polêmica envolve uma tentativa de aliados bolsonaristas de responsabilizar o ex-chefe do Executivo por articulações internacionais, entre elas, a tentativa de convencer Donald Trump a sancionar o Brasil economicamente como forma de pressionar o Judiciário brasileiro a não julgar Bolsonaro por seus atos.

Na Câmara, o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) adotou uma postura ambígua diante da proposta. Inicialmente, afirmou que não colocaria em pauta qualquer projeto de anistia. Contudo, com o aumento da pressão política, Motta deu sinais de que poderia rever sua posição. Reuniu-se com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para tratar da estratégia de viabilização da pauta, mas, diante da forte repercussão negativa na imprensa e nas redes sociais, voltou atrás e declarou que “não há nada definido” sobre o tema.

Enquanto Motta recua, Tarcísio avança. O governador paulista intensificou os esforços nos bastidores e passou a liderar, com apoio do pastor Silas Malafaia e do presidente do Republicanos, Marcos Pereira, uma ofensiva pela aprovação da anistia. Na última quarta-feira, Tarcísio recebeu Malafaia para um jantar no Palácio dos Bandeirantes e confirmou presença em protesto organizado pelo pastor em defesa do ex-presidente.

Segundo informações do Painel, a minuta do projeto de anistia está sendo elaborada por advogados e influenciadores ligados ao bolsonarismo — entre eles, Tiago Pavinatto e Flavia Ferronato — com o suporte de professores da USP que optaram pelo anonimato.

Do outro lado da trincheira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou pessoalmente na articulação para barrar a proposta no Congresso. Lula aposta no apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), oferecendo-lhe como contrapartida a manutenção de aliados políticos em cargos estratégicos no governo federal, incluindo ministérios e superintendências da Codevasf.

Apesar disso, o União Brasil decidiu deixar a base governista, determinando que seus membros abandonem os cargos até o final de setembro. Como contragolpe, o Planalto intensificou a liberação de emendas parlamentares — quase R$ 2,5 bilhões apenas nesta semana — numa tentativa de conter uma possível união entre o centrão e o PL em torno da anistia.

O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), reagiu às movimentações do governo e criticou a atuação de Alcolumbre, afirmando que cabe ao presidente do Senado apenas pautar o projeto, e não interferir em seu conteúdo. “O projeto que será apresentado pelo PL é o mínimo do mínimo”, disse Cavalcante, sugerindo que a oposição está disposta a negociar, mas não abrirá mão da proposta.

A jornalista Vera Magalhães alertou que o projeto de anistia, tal como redigido, vai além do perdão aos participantes do 8 de Janeiro e abre precedentes perigosos ao livrar também milícias digitais e investigados por tentativas de golpe. Já o analista Silvio Cascione acredita que o verdadeiro objetivo da ofensiva bolsonarista não é a aprovação imediata da anistia, mas consolidar Tarcísio de Freitas como herdeiro político de Bolsonaro e mostrar ao ex-presidente que, se eleito, ele dará continuidade ao projeto político do bolsonarismo.

Diante de um cenário cada vez mais polarizado, a disputa em torno da anistia a Bolsonaro se mostra mais do que uma questão jurídica — é uma batalha política pelo futuro da direita no país.

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