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Após tentativas frustradas de negociação, Brasil leva tarifaço dos EUA à OMC com apoio de 40 países

Com o fracasso das tentativas de negociação direta com os Estados Unidos, o governo brasileiro decidiu levar à Organização Mundial do Comércio (OMC) o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump sobre produtos brasileiros. A iniciativa contou com o apoio de cerca de 40 Estados-membros da organização, entre eles União Europeia, China, Rússia, Índia e Canadá. Ainda que não tenha resultado em uma resolução formal, os países endossaram a posição brasileira, indicando solidariedade frente à medida americana.

O secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, Phillip Fox-Drummond Gough, discursou durante a reunião do Conselho Geral da OMC sem citar diretamente os Estados Unidos, mas sua fala não deixou dúvidas sobre o alvo. Segundo Gough, as “tarifas arbitrárias”, anunciadas e implementadas de forma “caótica”, estão desestabilizando as cadeias globais de valor e podem lançar a economia mundial numa espiral de inflação e estagnação.

A delegação americana respondeu de forma protocolar, afirmando que “tomou nota” da posição brasileira e que encaminhará um resumo ao presidente Trump. Os representantes dos EUA alegaram preocupação com a competição de suas empresas e trabalhadores com países que “não seguem as regras”. A Argentina, por sua vez, optou por não se manifestar, distanciando-se da posição brasileira.

Com a data de entrada em vigor do tarifaço prevista para 1º de agosto, o governo brasileiro já trabalha com a possibilidade de não haver qualquer negociação formal com Washington. Estuda-se, nos bastidores, enviar uma missão oficial de alto nível à Casa Branca, embora nenhuma decisão definitiva tenha sido tomada. Apesar do silêncio oficial, fontes indicam que conversas informais e reservadas seguem em andamento entre representantes dos dois governos — mas, sem aval direto de Trump, o diálogo segue travado.

Enquanto isso, a crise diplomática começa a se entrelaçar com questões políticas internas. Uma entidade americana, chamada “Legal Help 4 You LLC”, solicitou formalmente que ações movidas pelas empresas Rumble e Trump Media contra o governo brasileiro sejam encaminhadas ao Departamento de Estado. A entidade também propôs a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes, e outros magistrados, alegando perseguição judicial.

Em evento recente, Donald Trump confirmou, sem mencionar diretamente o Brasil, que as tarifas se aplicam a países com os quais os EUA “não estão se dando bem”. O pronunciamento aumentou ainda mais a tensão entre os dois países.

Internamente, o ex-presidente Jair Bolsonaro, alvo de diversas investigações, optou por manter o silêncio público, temendo uma eventual prisão. Mesmo recluso, Bolsonaro continua ativo nos bastidores. Nesta quarta-feira, pelo menos sete aliados o visitaram na sede do PL, em Brasília. O ex-presidente tem instruído seus aliados a responsabilizarem o presidente Lula pelas sanções americanas e a atacarem o STF.

Atendendo ao chamado, o PL iniciou uma campanha de impulsionamento em redes sociais para reforçar a narrativa de que Lula é o culpado pelo tarifaço. O partido tenta, ao mesmo tempo, isentar Bolsonaro e sua família de qualquer envolvimento com as decisões de Trump.

Diante do desgaste crescente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) recuou em sua postura. Se antes comemorava as sanções, agora nega qualquer participação no lobby junto ao ex-presidente americano. Eduardo afirmou ainda que suas contas bancárias e as de sua esposa foram bloqueadas por decisão de Alexandre de Moraes. A mudança de tom coincide com a desistência do governador Cláudio Castro em nomeá-lo para uma secretaria no governo do Rio, o que o ajudaria a manter uma renda no exterior sem perder o mandato.

Em meio à escalada de tensões entre Executivo, Judiciário e oposição, o cientista político Fabiano Lana alertou: “Transformar Bolsonaro em vítima é um erro político. Proibir o ex-presidente até de se expressar, como já proibiram Lula, pode ser um equívoco. Prender antes da hora, outro.”

O cenário é complexo e incerto. Entre tarifas internacionais, disputas políticas internas e o relógio correndo rumo a 1º de agosto, o Brasil enfrenta um novo capítulo de sua já conturbada relação com os Estados Unidos — e consigo mesmo.

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