0

Em sua primeira declaração pública após firmar um acordo com os Estados Unidos para a redução de tarifas, o presidente da China, Xi Jinping, afirmou nesta segunda-feira que “bullying e hegemonismo só levam ao autoisolamento”. O discurso foi feito durante a abertura do Fórum China-Celac, que reúne lideranças latino-americanas e caribenhas com autoridades chinesas em uma iniciativa para aprofundar os laços políticos e comerciais da região com a superpotência asiática.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que participa do evento, também criticou — ainda que indiretamente — a política tarifária adotada pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump, defendida por parte do atual cenário político dos Estados Unidos. “A imposição de tarifas arbitrárias só agrava a situação já desequilibrada do comércio mundial, prejudicando especialmente os países em desenvolvimento”, declarou. Em tom firme, Lula rejeitou a ideia de que a América Latina volte a ser campo de disputa entre grandes potências. “Nossa região não deseja ser palco de disputas hegemônicas, não queremos encenar uma nova Guerra Fria”, afirmou, acrescentando um alerta aos vizinhos: “Não há saída para nenhum país individualmente”.

Na disputa estratégica por influência na América Latina, Xi Jinping apresentou um pacote de ações voltadas à região: uma linha de financiamento de US$ 9,1 bilhões, isenção de vistos para cidadãos de cinco países latino-americanos e a concessão de milhares de bolsas de estudo para estudantes da região em universidades chinesas. As medidas ampliam o soft power chinês e desafiam diretamente a presença tradicional dos Estados Unidos no continente.

Apesar da aproximação, um dos principais objetivos da comitiva brasileira — garantir investimentos para a construção da ferrovia bioceânica, que ligaria o Brasil ao Oceano Pacífico por meio do Peru — ainda não avançou. O governo brasileiro solicitou que as estatais chinesas deem resposta sobre o investimento no projeto dentro de um prazo de 30 dias.

A presença de Lula em um cenário diplomático marcado por ares autoritários também chamou atenção. Na cerimônia de abertura do fórum, posou ao lado de 29 chefes de Estado, sendo apenas dois provenientes de democracias consolidadas — um deles o populista eslovaco Robert Fico, apelidado de “Trump da Eslováquia”. Para o colunista Pedro Doria, do Ponto de Partida, trata-se de uma escolha simbólica. “Escolhas têm significado”, escreveu, em crítica ao que chamou de ambiguidade política de Lula ao buscar alianças econômicas mesmo em contextos marcados por regimes autoritários.

A crescente presença da China na América Latina, enquanto os Estados Unidos lidam com seu próprio reposicionamento geopolítico, coloca os países da região diante de uma encruzilhada: como atrair investimentos e fortalecer suas economias sem comprometer princípios democráticos ou cair em novos jogos de dependência estratégica.

José Dirceu estaria na lista de alvos de plano golpista para manter Bolsonaro no poder, aponta investigação

Artigo anterior

José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, está em estado terminal, informa esposa

Próximo artigo

Você pode gostar

Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais sobre Política