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A cúpula do Brics realizada no Rio de Janeiro termina oficialmente nesta segunda-feira (7), mas a declaração final do encontro — documento mais aguardado do evento — foi apresentada no domingo (6) pelo Itamaraty. Costurada por diplomatas dos 11 países que integram o bloco, a “Declaração do Rio de Janeiro” cobra uma reforma ampla da governança global, com foco na reestruturação do Conselho de Segurança da ONU, da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O texto também aborda temas sensíveis como o conflito no Oriente Médio, condenando os ataques a instalações nucleares no Irã, embora sem mencionar explicitamente os responsáveis — Israel e Estados Unidos. Em outro ponto delicado, o documento defende a criação de dois Estados como solução para o conflito entre israelenses e palestinos. A guerra da Ucrânia, por sua vez, teve menções genéricas, sem condenações diretas à Rússia, membro fundador do bloco.

Críticas à ordem global e reação dos EUA

Ao abrir a conferência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a ofensiva israelense em Gaza como “genocídio” e afirmou que o mundo vive um “colapso do multilateralismo”. Também criticou o aumento dos gastos militares da OTAN e defendeu maior protagonismo para o Sul Global nas decisões internacionais.

Dois trechos da declaração final entraram em confronto direto com interesses estratégicos dos Estados Unidos: o primeiro, ao criticar “a imposição unilateral de tarifas comerciais” — prática comum da política externa americana, sobretudo sob o comando de Donald Trump. O segundo, ao defender que os países tenham soberania para regular o mercado de inteligência artificial e as big techs.

A reação do ex-presidente americano veio poucas horas depois, por meio de sua plataforma Truth Social. Trump ameaçou impor uma tarifa adicional de 10% a todos os países que se alinharem às diretrizes do Brics. “Não haverá exceções a esta política”, escreveu. Ele vem defendendo uma agenda de desregulamentação para gigantes da tecnologia, muitas das quais apoiaram sua campanha.

Protesto e tensões diplomáticas

A presença do Irã no bloco também gerou polêmica fora do ambiente diplomático. Na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, a ONG StandWithUs Brasil realizou um protesto simbólico fincando bandeiras do arco-íris na areia, em repúdio à perseguição da comunidade LGBTQIA+ pelo regime iraniano. No Irã, a homossexualidade é considerada crime e pode ser punida com pena de morte.

Análise: ganhos diplomáticos e riscos estratégicos

Segundo o jornalista e analista de política internacional Diogo Schelp, a atuação brasileira no Brics ainda tem relevância estratégica, mas os benefícios são hoje menos claros. “Tentar fortalecer, pelo antagonismo com os Estados Unidos, um clube de países diluído por ditaduras não parece uma estratégia com muito futuro”, avaliou.

O Brics é atualmente formado por 11 países: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia. Juntos, representam 39% da economia mundial e 48,5% da população global.

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