0

Para continuar no clima da cerimônia, que aconteceu no domingo (10 de março), preparamos uma lista com filmes que explicam um pouco mais sobre a história, as categorias e até mesmo as vitórias e derrotas na premiação. Confira abaixo a nossa seleção de 15 filmes que já estiveram Oscar.

CENTRAL DO BRASIL

Cena de Central do Brasil (Reprodução)

Para abrir o nosso aquecimento para o Oscar, a única escolha possível seria com um dos filmes brasileiros que mais marcou a premiação (principalmente na categoria de Melhor Atriz): Central do Brasil.

A história do Brasil no prêmio começou há muito tempo, quando Ary Barroso se tornou o primeiro brasileiro a ser indicado pela Academia, em 1945. Mas foi em 1962 que o Brasil conquistou a sua primeira indicação a Melhor Filme Estrangeiro, com o clássico O Pagador de Promessas. Desde então, inúmeras produções brasileiras tentaram conquistar seu lugar na premiação, com O Quatrilho (1995) e O Que é Isso, Companheiro? (1997) concorrendo na categoria de produções internacionais – mas foi Central do Brasil, em 1999, que abriu os olhos do mundo para o nosso cinema.

O longa dirigido por Walter Salles se tornou um marco na história da sétima arte, dando um impulso considerável ao mostrar que produções nacionais deveriam ter o seu espaço no circuito mundial. Até hoje, Fernanda Montenegro é a primeira e única atriz brasileira a ser indicada a um Oscar na categoria de Melhor Atriz, e sua derrota para Gwyneth Paltrow (por Shakespeare Apaixonado) é debatida até hoje. Fernanda pode até não ter levado o prêmio, mas sua indicação serve pelo menos como prova de que ela é, e sempre será, uma das maiores atrizes que já existiram.

Onde assistir? Disponível no Globoplay.

SHREK

Cena de Shrek (Reprodução)

Sim, Shrek não poderia ficar de fora dessa lista – afinal, o longa dirigido por Andrew Adamson e Vicky Jenson foi o primeiro a vencer a categoria de Melhor Animação no Oscar.

A história do ogro começou a ser desenvolvida em 1995, com uma ideia inicial bem diferente da que assistimos, com um Shrek que viveria em um lixão perto dos humanos. Em 1998, um software de animação próprio foi utilizado para criar os personagens, juntamente com programas envolvendo CGI e locações reais, que deram mais realismo à produção.

Com mais de 275 pessoas trabalhando incessantemente durante 4 anos, a animação se tornou um marco na história do cinema por sua qualidade visual, versatilidade e também pelos temas abordados em seu primeiro longa. Apesar de disputar a categoria com Monstros S.A. e Jimmy Neutron, era inegável a popularidade de Shrek dentro e fora da Academia. Sua relevância continua até hoje, como uma das franquias animadas mais amadas por diversas gerações.

Onde assistir? Disponível no Prime VideoNetflixGloboplay e mais.

O SENHOR DOS ANÉIS: O RETORNO DO REI

Cena de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (Reprodução)

Nada como um recordista para atiçar nossa curiosidade, né? O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei coroou a trajetória vitoriosa da saga de Peter Jackson no Oscar – após A Sociedade do Anel vencer quatro estatuetas, e As Duas Torres levar mais duas, o terceiro longa adaptado dos livros de J.R.R. Tolkien dominou a cerimônia de 2004 ao faturar nada menos do que 11 Oscars, incluindo melhor filme e melhor direção para Jackson. É uma marca só igualada por outros dois longas na história da premiação: Ben-Hur em 1960 e Titanic em 1998.

O recorde de O Retorno do Rei é mais impressionante, talvez, por se tratar de um filme de fantasia, um daqueles gêneros tradicionalmente ignorados pelo Oscar. Sagas como Star WarsStar Trek e Harry Potter apareceram pouco ou nada nas listas da Academia com o passar das décadas, enquanto filmes isolados e aclamados, como Avatar, O Labirinto do Fauno, O Tigre e o Dragão, A Invenção de Hugo Cabret e até o clássico O Mágico de Oz chegaram a faturar estatuetas técnicas, mas passaram longe das categorias principais.

O Retorno do Rei é uma das pouquíssimas exceções a essa regra (outra é A Forma da Água, que venceu melhor filme em 2018), e dá para entender o porquê: a produção refinada comandada por Jackson, aliada à força narrativa extraordinária do desfecho da saga de Tolkien, criou uma daquelas obras cuja primazia se torna simplesmente inegável – até por quem costuma se esforçar bastante para negar.

Onde assistir? Disponível no Prime Video e na HBO Max.

… E O VENTO LEVOU

Cena de …E o Vento Levou (Reprodução)

A 12ª edição do Oscar foi um banquete para quem é apaixonado por cinema: O Mágico de Oz trazia um respiro para os fãs de musicais; No Tempo das Diligências se tornava um dos maiores clássicos do gênero western; Ninotchka nos brindava com uma atuação divertidíssima de Greta Garbo. Mas somente um filme marcaria a história da premiação (para o bem e para o mal) e não poderíamos deixar de citá-lo – afinal, ele é …E o Vento Levou.

A adaptação do livro de Margaret Mitchell era um prato cheio para os votantes da Academia. Tendo como pano de fundo a Guerra da Secessão, a história acompanha a mimada Scarlett O’Hara (vivida por Vivien Leigh) tentando se reerguer ao lado da família durante o período de confronto entre o Sul e o Norte dos EUA. Com um drama melódico e atuações marcantes, a produção levou 8 das 13 indicações que recebeu. Contudo, a maior e mais importante dessas vitórias foi o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Hattie McDaniel, a primeira mulher negra a levar a estatueta para casa.

Apesar de ter sido consagrada com o prêmio, a vitória foi um tanto agridoce. Era inegável a alegria da atriz, porém, Hattie foi obrigada a sentar em uma mesa segregada durante a cerimônia e afastada de seus colegas brancos. Foram cerca de 50 anos até outra atriz negra conquistar a estatueta, quando Whoopi Goldberg levou por Ghost – Do Outro Lado da Vida. Se alguma coisa mudou nos dias atuais? A resposta é não: apenas cinco mulheres negras venceram como Atriz Coadjuvante, e só Halle Berry conquistou o prêmio na categoria principal. Apesar de movimentos como #OscarsSoWhite virem a tona nos últimos anos, inúmeros filmes protagonizados e dirigidos por pessoas pretas foram deixados de lado para premiar longas de qualidade questionável, mas que foram feitos por brancos.

Onde assistir? Disponível na HBO Max.

O EXORCISTA

Cena de O Exorcista (Reprodução)

Você já se perguntou quantos filmes de terror já venceram o Oscar? A resistência entre os votantes da Academia ao gênero é bem antiga, mais precisamente desde 1932, quando O Médico e o Monstro recebeu apenas 3 indicações ao prêmio (com vitória única para Fredric March, em Melhor Ator). Mas, em 1973, O Exorcista traria ainda mais discussão sobre a falta de inclusão do horror na premiação.

Foi graças ao filme dirigido por William Friedkin que a premiação indicou – pela primeira vez – uma produção de terror para a categoria de Melhor Filme. No caso de Exorcista, o filme concorreu em um total de 10 categorias: Diretor, Design de Produção, Fotografia, Edição e também nas categorias de atuação, com as performances brilhantes e devastadoras de Ellen Burstyn, Jason Miller e Linda Blair. A obra-prima de Friedkin, porém, conquistaria apenas duas estatuetas, uma em Melhor Roteiro Adaptado e a outra em Melhor Som.

É interessante notar que mesmo com toda a aclamação, e sendo um dos gêneros mais populares, o horror continuou sendo deixado de lado quando se trata da Academia. Na história, apenas outros cinco conseguiram a mesma façanha de chegar na categoria principal do prêmio, com uma vitória de O Silêncio dos Inocentes. Mesmo que inúmeros longas de terror fossem extremamente merecedores de conquistar uma vaga na categoria, sempre foi claro que o tema seria ignorado pelos votantes.

Aos poucos, algumas produções mais recentes até conseguiram furar a bolha dos votantes, que celebraram (ainda que minimamente) longas como Corra!, de Jordan Peele. Mas como ignorar atuações como a de Toni Collette em Hereditário? E o que espera os amantes de horror nos próximos anos? A perspectiva até pode não ser tão boa, mas esperamos que, no mínimo, o trabalho de quem faz bons filmes de terror seja reconhecido como deve.

Onde assistir? Disponível na HBO Max.

CIDADE DE DEUS

Cena de Cidade de Deus (Reprodução)

Se Central do Brasil abriu caminho para o cinema brasileiro nas categorias principais do Oscar com a indicação de Fernanda Montenegro a Melhor Atriz, Cidade de Deus terminou de chutar a porta ao ser lembrado pela Academia em Melhor Direção (Fernando Meirelles), Melhor Roteiro Adaptado (Bráulio Mantovani), Melhor Fotografia (César Charlone) e Melhor Edição (Daniel Rezende). Detalhe: isso tudo aconteceu no Oscar 2004, um ano depois de Cidade de Deus ser esnobado pela Academia enquanto representava o Brasil na corrida de Melhor Filme Internacional (na época, ainda chamado de Estrangeiro).

O retorno triunfal do longa de Meirelles e Kátia Lund se deve em parte à campanha agressiva da Miramax, que distribuiu Cidade de Deus nos cinemas dos EUA, mas também ao impacto cultural inegável que o filme foi acumulando durante o ano que se seguiu ao seu lançamento. Premiado em dezenas de festivais, e citado frequentemente por veículos de imprensa internacionais como um dos melhores e mais inovadores filmes de todos os tempos, Cidade de Deus entrou vernáculo pop do mundo todo, e a Academia agarrou a chance de celebrar as conquistas – especialmente as técnicas – do filme e pegar um pedacinho dessa popularidade para si.

20 anos depois do seu lançamento, olhar para Cidade de Deus e seu sucesso é agridoce – afinal, o Brasil nunca conseguiu replicar o êxito do filme no Oscar, muito menos em termos de impacto internacional. Por outro lado, o legado social do filme continua sendo reavaliado pelas pessoas envolvidas nele e pelos moradores das comunidades que ele representa, uma vez que o retrato pop das favelas proposto por Meirelles e Lund nunca foi unanimidade. Para saber mais, acesse nosso especial dos 20 anos de Cidade de Deus.

Onde assistir? Disponível na Netflix e no Globoplay.

TUDO EM TODO O LUGAR AO MESMO TEMPO

Cena de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (Reprodução)

Nunca um filme tão “fora da caixinha” foi tão bem-sucedido no prêmio da Academia – e o mesmo vale quando falamos de ficção científica. Com sete vitórias ao todo no Oscar 2023, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção (Daniels) e Melhor Atriz (Michelle Yeoh), Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo foi o passo mais ousado que a Academia já deu para tentar provar a sua vitalidade e relevância dentro do contexto do século XXI. Há quem entenda esse aceno à contemporaneidade como um movimento cínico, mas é inegável que Tudo em Todo o Lugarentrou na história do Oscar.

Melhor ainda: fazia muito tempo que um filme tão bom não saía como o principal vencedor da noite mais importante do cinema estadunidense. Com impulso pop irrefreável, os Daniels misturam referências do cinema asiático para construir uma história pulsante de família e resistência ao niilismo que ressoa ainda mais em um mundo diretamente pós-pandemia de COVID-19. Era o filme que precisávamos, que ainda precisamos, e que provavelmente vamos continuar precisando enquanto conseguirmos continuar adiando a nossa extinção.

Ah, e já estava mais do que na hora de Michelle Yeoh ser contemplada com uma estatueta que simbolizasse as décadas de trabalho excepcional que ela vinha fazendo, seja no cinema de ação de Hong Kong ou em papéis coadjuvantes (que frequentemente não a mereciam) em Hollywood. Apenas a segunda mulher não-branca a vencer o Oscar de Melhor Atriz, mais de duas décadas depois de Halle Berry levar por A Última Ceia, Yeoh representa o que a Academia pode fazer de melhor: dar respaldo ao trabalho de gente que vai utilizá-lo para fazer mais arte singular e excelente, e legitimar o espaço ocupado por gente que não tem esse espaço garantido na indústria.

Onde assistir? Disponível no Prime Video.

MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA

Cena de Mad Max: Estrada da Fúria (Reprodução)

Outro gênero pouquíssimo celebrado pela Academia do Oscar é a ação. A última vez que um longa que se aproximou francamente da porradaria venceu a estatueta de Melhor Filme foi Operação França, em 1972 – e nós jamais pensaríamos em desmerecer o clássico de William Friedkin, mas é bizarro pensar que nenhum dos grandes feitos do cinema de ação foram reconhecidos pela maior premiação de Hollywood desde então. Quem teve mais chance de quebrar essa “maldição” foi George Miller e seu inescapável Mad Max: A Estrada da Fúria, que dominou o diálogo sobre cultura pop em 2016 e chegou ao Oscar com nada menos do que 10 indicações, incluindo em Melhor Filme e Melhor Direção.

Mas o dia da cerimônia chegou, e no fim das contas a Academia preferiu o protocolar Spotlight – Segredos Revelados para o prêmio principal da noite, relegando Estrada da Fúria às categorias técnicas. É verdade que foram seis estatuetas ao todo, um número impressionante, incluindo uma vitória surpresa (e muito bem-vinda!) em Melhor Figurino para a incrível Jenny Beavan. Mas reduzir o longa de Miller aos seus muitos méritos técnicos é típico de uma Academia que dificilmente consegue enxergar méritos dramáticos em filmes que ousam ir além de certos parâmetros arbitrários – e, honestamente, meio burros – de gênero e tom.

De qualquer forma, a performance arrasadora de Charlize Theron como Furiosa fez a personagem entrar para o rol das mais marcantes da história do cinemão hollywoodiano – e não é uma esnobada do Oscar que vai mudar isso. Com uma prequel acelerando na direção dos cinemas ainda este ano, a franquia guiada pela visão revolucionária de Miller fica eternizada muito além dos livros de registro da Academia.

Onde assistir? Disponível na Max.

O SILÊNCIO DOS INOCENTES

Cena de O Silêncio dos Inocentes (Reprodução)

Já falamos aqui sobre O Silêncio dos Inocentes ser o único longa de terror a levar o Oscar de Melhor Filme, mas a obra de Jonathan Demme tem outra marca importante. Junto com Aconteceu Naquela Noite (1935) e Um Estranho no Ninho (1976), ele completa o trio de filmes que venceram todas as cinco categorias principais do Oscar em seu ano – a saber: Melhor Filme, Melhor Direção (Demme) Melhor Atriz (Jodie Foster), Melhor Ator (Anthony Hopkins) e Melhor Roteiro (no caso, Roteiro Adaptado, para Ted Tally).

É um feito raro não só porque atesta a dominação cultural do filme no ano em que foi lançado, como também porque diz algo sobre quão multifacetada é sua excelência. O Silêncio dos Inocentes adapta o livro de Thomas Harris sobre o serial killer Hannibal Lecter (Hopkins, em uma das performances mais curtas já premiadas na categoria principal) e a detetive Clarice Starling (Foster, que venceu seu segundo Oscar antes dos 30 anos de idade), que se unem para investigar os assassinatos do terrível Buffalo Bill.

A tensão implacável impressa por Demme, junto à densidade do texto de Tally, que confronta a fascinação por serial killers e o machismo do mundo policial ao mesmo tempo e com integridade, fazem de O Silêncio dos Inocentes um dos thrillers de investigação fundacionais do gênero. E não é todo filme que dá papeis tão marcantes para protagonistas de dois gêneros, a ponto de consolidar suas carreiras daquela forma definitiva que pouquíssimos outros astros e estrelas do cinema conseguem – a partir de O Silêncio dos Inocentes, não importava mais o que Hopkins e Foster fizessem: eles sempre teriam lugar no panteão de Hollywood.

Onde assistir? Disponível no Prime Video.

PANTERA NEGRA

Cena de Pantera Negra (2018)

Os filmes de super-heróis têm uma história mais longa no Oscar do que o público costuma achar – a primeira indicação veio em 1941, quando um curta-metragem de animação do Superman perdeu a estatueta da sua categoria para o Mickey, enquanto o primeiro prêmio veio em 1978, quando o Superman (de novo!) de Christopher Reeve levou um Oscar especial de efeitos visuais, antes mesmo da criação de uma categoria para o trabalho dos artistas de CGI. Batman (1989) venceu um Oscar de Melhor Direção de Arte, Homem-Aranha 2 (2004) ganhou Melhores Efeitos Visuais, O Cavaleiro das Trevas (2008) levou Melhor Ator Coadjuvante para Heath LedgerEsquadrão Suicida (2016) ganhou Melhor Maquiagem & Penteado, e por aí vai.

A categoria de Melhor Filme, no entanto, seguiu intocada pelas produções do gênero até o Oscar 2019, quando Pantera Negra se apoiou em sua relevância sociocultural e na excelência do diretor Ryan Coogler para chegar à indicação na categoria principal da noite. Foi uma das sete nomeações do longa, que saiu da noite do Oscar com três estatuetas técnicas (as merecidíssimas Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora) – ainda a maior contagem para um filme do gênero, ultrapassando inclusive as duas vitórias de Coringa, que recebeu 11 indicações ao Oscar alguns anos mais tarde.

A história recente dos super-heróis no prêmio da Academia fala muito mais sobre a luta da premiação para se manter relevante para o público, e diante das mudanças financeiras de Hollywood, do que sobre a qualidade das produções. Dentro da miopia típica do Oscar, Pantera Negra Coringa se legitimaram o bastante como “obras de prestígio” para chegar às categorias principais, enquanto outras produções que se apoiam com mais força no cinema de gênero ficaram de fora. É um cabo de guerra que continuará no futuro.

Onde assistir? Disponível no Disney+.

PARASITA

Cena de Parasita (Reprodução)

Lembra de quando Jane Fonda olhou para a plateia do Oscar 2020 e, com um sorriso de quem sabia o momento histórico do qual estava participando, anunciou que Parasita havia vencido a estatueta de Melhor Filme? Então, a gente era feliz e não sabia! E não é só porque este foi um dos últimos momentos realmente jubilantes de cultura pop antes da explosão da pandemia de covid-19, mas porque o Oscar finalmente reconhecer que um filme produzido fora do eixo EUA-Reino Unido era o melhor do ano é… justica histórica, para dizer o mínimo.

Não nos levem a mal: o longa de Bong Joon-ho é mesmo incrível, uma sátira social afiadíssima e um suspense brilhante ao mesmo tempo, além de estar lotado de interpretações e cenas antológicas (Song Kang-ho foi esnobado na categoria de Melhor Ator). Mas a significância de Parasita na história do Oscar é maior do que seus próprios méritos, servindo como avatar para uma lista gigantesca de grandes longas falados em línguas que não são o inglês, que sempre foram ignorados ou relegados à coadjuvância no prêmio da Academia, muito embora ele se venda como “o maior do mundo”.

Melhor ainda é lembrar que o diretor Bong não perdeu a perspectiva do que aquela vitória significava dentro do grande esquema das coisas. Além de usar um de seus discursos (ele também levou a estatueta de Melhor Direção) para cutucar a reticência do público estadunidense a filmes com legenda, ele deu declarações antes e depois do Oscar em que fez questão de sublinhar que a premiação é “muito regional” diante de outras celebrações de cinema que abraçam muito melhor a pluralidade da produção global. O homem tem um ponto.

Onde assistir? Disponível na Max e no Telecine.

TITANIC

Cena de Titanic (Reprodução)

Uma das maiores histórias de amor do cinema, e que conquistou onze (isso mesmo, onze!) de quatorze indicações ao Oscar, não poderia ficar de fora dessa lista! James Cameron até pode tentar transformar Avatar em sua obra-prima, mas foi com Titanic que ele alcançou esse status e também apresentou ao mundo o seu perfeccionismo e foco técnico ao recriar um dos maiores desastres marítimos da história. Se a história do filme surgiu de uma forma simples – como Cameron era apaixonado pelo oceano, ver uma imagem do Titanic fez com que pensasse em uma versão Romeu e Julieta da tragédia–, toda a concepção e a criação de cada um dos detalhes se tornou algo extremamente grandioso.

Partes do navio foram construídas em escala real para deixar tudo ainda mais verdadeiro, com direito ao convés sendo construído sob uma espécie de dobradiça que conseguia ser erguida de zero a 90º em segundos, assim como no naufrágio de verdade. Peças foram meticulosamente construídas de acordo com imagens e esboços do navio verdadeiro e, para o desespero de várias pessoas da produção – e dos executivos da 20th Century Fox (hoje apenas 20th Century Studios) – um tanque de cerca de 17 milhões de galões de água foi construído para recriar a cena em que o navio finalmente afunda. Mesmo com toda a pressão pelo retorno financeiro, Cameron continuou acreditando no sucesso do filme, e também nas jovens estrelas que fariam parte de seu longa: Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. Aliás, foi graças à química formidável da dupla que a produção alcançou o sucesso que tem hoje, e ainda mostrou a Hollywood o seu talento.

Completamente fora do comum, Titanic foi o segundo filme da história do Oscar a ser indicado em 14 categorias (atrás do clássico A Malvada, em 1950), e o segundo a alcançar 11 vitórias, atrás de Ben-Hur, que foi o primeiro a conquistar o feito em 1959. As imagens fascinantes, somadas com um roteiro um tanto quanto simples, fazem desse amor proibido entre dois jovens um dos maiores clássicos do Oscar, e um peso gigantesco na história da Academia.

Onde assistir? Disponível no Star+.

O PODEROSO CHEFÃO

Cena de O Poderoso Chefão (Reprodução)

Tocamos um pouco no impacto da Nova Hollywood no Oscar quando falamos de Guerra nas Estrelas, alguns dias atrás, mas nada supera a chegada de O Poderoso Chefão na premiação da Academia. A obra-prima de Francis Ford Coppola, figura chave dessa geração de cineastas que revolucionou o cinemão comercial estadunidense a partir da década de 70, foi indicado a 11 estatuetas e levou três delas, incluindo a de Melhor Filme e Melhor Ator (Marlon Brando). Compare o épico operático e violento de Coppola com os vencedores de Melhor Filme da década de 1960 (OliverA Noviça RebeldeMinha Bela Dama!), e você vai começar a entender a mudança de paradigma que a Nova Hollywood representou.

Ainda melhor é saber que O Poderoso Chefão: Parte II foi ainda mais fabulosamente bem-sucedido no Oscar do que o primeiro. Com outra vitória em Melhor Filme, a sequência eternizou O Poderoso Chefão como a única franquia a vencer o prêmio principal da Academia mais de uma vez – além de render a primeira estatueta de Robert De Niro, e finalmente dar o prêmio de Melhor Direção para Coppola. Foram seis estatuetas ao todo, deixando clara a dominação exercida por uma geração de cineastas cuja forte ambição autoral fez Hollywood deixar o datado studio system (onde os estúdios tinham o poder de contratar e demitir artistas, e produtores tinham mais controle criativo que diretores ou roteiristas) para trás.

Mas, se tudo isso se aplica, precisamos falar também de O Poderoso Chefão: Parte III, que chegou dezesseis anos depois do segundo filme, encarando uma Hollywood completamente transformada. Sim, é verdade que Parte III é largamente (e merecidamente) reconhecido como o pior dos filmes da saga, mas parte da intensa rejeição que ele sofreu em sua época também teve a ver com o fato de esta ser uma obra completamente descolada de seu tempo. O resultado no Oscar? Sete indicações, incluindo Melhor Filme, conseguidas na força da campanha imponente da Paramount – mas nenhuma vitória.

Onde assistir? O primeiro filme está disponível no Star+ e no Paramount+. O segundo, no Star+ e no Telecine. O terceiro, para aluguel e compra no Prime Video.

GUERRA AO TERROR

Cena de Guerra ao Terror (Reprodução)

Kathryn Bigelow faz filmes excepcionais desde o começo dos anos 1980. Uma das cineastas que melhor dominam tensão e linguagem de gênero em Hollywood, não é a toa que ela só tenha ganhado a boa vontade da crítica e da Academia quando abandonou a fantasia e o sci-fi por uma história de guerra realista e brutal. Guerra ao Terror se apoiou na relevância social do seu retrato inflexível da realidade no Iraque para surpreender no Oscar 2010 e não só levar Melhor Filme (em cima de favoritos como Avatar e Bastardos Inglórios) como também fazer de Bigelow a primeira mulher premiada em Melhor Direção.

momento em si já é icônicoBarbra Streisand, repetidamente esnobada pela Academia na categoria de direção, abre o envelope e declara que “chegou a hora” (o “finalmente” ficou subentendido) antes de chamar o nome de Bigelow. Assim como aconteceu com Parasita anos mais tarde, e com tantas outras na história do Oscar, é uma vitória que significou muito mais do que os méritos da premiada – a cerimônia de 2010 foi a 82ª da história do prêmio, o que significa que, nos 81 anos anteriores, a Academia se recusou a premiar nomes que definiram e redefiniram o cinema, como Agnes Varda, Jane Campion, Chantal Akerman, Claire Denis, Ida Lupino, Lina Wertmüller, Julie Dash… enfim, qualquer lista seria insuficiente diante da contribuição gigantesca das cineastas mulheres à sétima arte.

As coisas melhoraram um pouco (ênfase no um pouco) desde então. Chloé Zhao (Nomadland, em 2021) e a própria Jane Campion (O Ataque dos Cães, em 2022) se juntaram a Bigelow no minúsculo time de mulheres vencedoras do Oscar de Melhor Direção, e a categoria normalmente inclui pelo menos uma indicada do gênero feminino nos últimos anos. Mas é claro que não é o bastante – 3 mulheres premiadas em 96 anos? Há muito, mas muito a melhorar nesse número aí, Academia!

Onde assistir? Disponível no Prime Video e na Netflix.

MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR

Cena de Moonlight: Sob a Luz do Luar (Reprodução)

Moonlight: Sob a Luz do Luar é muito maior do que a confusão que marcou a sua vitória em Melhor Filme no Oscar 2017 – mas, para ser bem sincero, a gente meio que ama a confusão também. Por conta de uma troca de envelopes e da hesitação dos apresentadores Warren Beatty e Faye Dunaway, a estatueta foi entregue erroneamente para a equipe de La La Land: Cantando Estações, que subiu ao palco e precisou corrigir o equívoco ao vivo, com o produtor Jordan Horowitz graciosamente chamando os responsáveis por Moonlight para receber o prêmio em seu lugar. Um dos momentos de televisão ao vivo mais absurdos e excitantes deste século, ponto final.

Mas Moonlight merece fechar a nossa lista de filmes que explicam o Oscar também porque é uma daquelas obras-primas que acontecem muito raramente, e que ainda mais dificilmente são reconhecidas pela Academia. Barry Jenkins realiza aqui um filme que merece ser visto e revisto com o passar dos anos, porque se abre em significados e sensibilidades novas sempre que o espectador volta a ele amadurecido, mudado pela vida que viveu desde a última vez que o assistiu. Uma obra que se converte em companheira para uma vida inteira, uma fonte de significados visuais, sonoros, verbais, sociais e emocionais interminável.

Igualmente importante é notar que Moonlight foi o primeiro longa focado em personagens negros e em personagens LGBTQIA+ a vencer o Oscar de Melhor Filme – mais uma daquelas portas abertas pelas quais poucas obras conseguiram passar desde então, graças à teimosia e lentidão da Academia para se adaptar aos novos tempos. Mais simbólico do que isso para definir o Oscar? Impossível.

Governo do Estado formaliza adesão da Bahia ao programa Pé-de-Meia

Artigo anterior

‘Facções invadem os espaços da democracia e da religião’, alerta Gilmar sobre crime organizado

Próximo artigo

Você pode gostar

Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais sobre Cinema